quarta-feira, 25 de maio de 2011

 DESABAFO...

Por que eu tenho que ir às ruas e expor a minha integridade física para conseguir o que é meu direito? Por que eu preciso promover greves e passeatas, interditar ruas e atrapalhar o trabalho de terceiros que nada tem a ver com a minha vida? Tudo isso para que? Para chamar a atenção de um governo que não liga para os meus interesses, para o meu bem-estar e só o faz quando é pressionado publicamente?

Estamos cansados de ouvir que nós, os jovens de hoje, somos uma geração sem bandeiras. Que bandeiras vocês querem? Que atitudes vocês esperam de nós? Se há alguns anos atrás isso deu certo com vocês, os tempos são outros hoje, as coisas não funcionam da mesma forma e talvez se algum de vocês queira saber: não, eu não quero apanhar da polícia ou ser perseguida por alguém pelos meus ideais. E mais, por que nós temos que nos comportar igual a vocês para sermos algo? Sabe o que é engraçado? É que esse mesmo povo que fez tudo isso em décadas passadas, antes mesmo de terminar toda a agitação, se casou, começou a a trabalhar todo engravatado, ou então ficou em casa cuidando das crianças e fazendo tudo o que mais criticavam. Interessante não?

O que me parece irônico no meio de tudo isso é que enquanto uns enchem a boca para dizer que nossa geração "não está com nada", "está perdida", "não tem bandeiras, não luta por nada" eu vejo o contrário. Mesmo que lentamente (quase parando) a sociedade está mudando, e quem são os responsáveis por isso? Os idosos? Não! Definitivamente. Somos nós que estamos mudando nossas atitudes, somos nós que estamos nos conscientizando; ainda que não seja algo comum a todos. As transformações não ocorrem de uma hora para outra, e quando acontecem, resulta no que muitos viram anos atrás.

Não sei se essas pessoas que dizem tudo isso estão ouvindo o que estão dizendo. Eu não concordo com essa visão limitada de luta pelos interesses comuns. Sempre existiram outros meios de se fazer justiça, e hoje mais do que nunca, é viável conseguir mudanças sem precisar atrapalhar a vida das pessoas que estão voltando para as suas casas. Talvez você pergunte: qual é essa maneira? Eu terei o maior prazer em responder: Imprensa. Este é o melhor veículo de informação e denúncia que todo cidadão possui. Nenhum governante gosta de ter sua imagem prejudicada e é exatamente aí que nós deveríamos bater. A via diplomática deve ser usada como primeiro recurso, porém, como no Brasil as coisas só funcionam "na porrada", é difícil conseguir algum avanço só com a educação. E claro, para os que estão pensando que só a imprensa em si não basta, eu rebato: comoção.

Comoção regional, nacional ou internacional se for necessário. Governantes odeiam outras pessoas opinando sobre aquilo que diz respeito ao seu governo. É claro que nada disso vai funcionar se não houver conhecimento de causa e de direitos, se não houver bons negociantes, pois é assim que eles nos enganam e é cm a mesma arma que vamos contorná-los.

Enquanto aqueles limitam-se em dizer que nós não fazemos nada, nós, por outro lado seguimos cantando com os mesmos ídolos deles "vamos pedir piedade, senhor, piedade pra essa gente careta e covarde; vamos pedir piedade, senhor, piedade, lhes dê grandeza e um pouco de coragem".

Por Juliana Sampaio
Citação da letra da música Blues da Piedade - Cazuza


PS.: UM DIA, EU REALMENTE ACREDITEI NISSO... AGORA, NÃO MAIS.

sábado, 21 de maio de 2011

Vida e Morte

Desde que o homem teve consciência de si, a preocupação com a morte aparece como um dos motivos que o leva a refletir sobre sua vida, desde questões filosóficas até questões puramente práticas do cotidiano. A totalidade existe nos seus contrastes, as coisas se organizam em ciclos e tal como o "ciclo da vida" envolve a morte, o dia-a-dia é composto por fins e recomeços que se alternam num processo de criação e cópia.

A forma como vemos, se como inovação ou como reprodução, depende em parte da cultura que vivemos, já que é evidente a diferença com que se trata "o fim" no Ocidente e no Oriente. Enquanto o mundo ocidental propõe um abismo entre os contrastes, os orientais aproximam-se dos opostos e ensinam a conviver realmente com a idéia de ciclo: início, meio, fim e recomeço... E dessa diferença resultam os mais diversos tipos de produção do espaço, tempo e cultura.

Não se pode negar que a rotina transforma os dias em repetições que podem ser prazerosas ou monótonas, nos levando a crer que as coisas são iguais; e, até certo ponto, isso é verdade. Porém, se considerarmos o exemplo de Heráclito quando este dizia que um homem nunca toma banho duas vezes no mesmo rio, a idéia parece mudar de foco. No fim, tudo depende de como cada indivíduo enxerga a si próprio e às pessoas.

São enormes os exemplos que temos de como a humanidade encarou a dualidade vida-morte em todas os tempos e como conviver com isso, seja "vivendo intensamente cada minuto" ou "se preparando para o que está por vir". O que realmente impressiona é a maneira como cada ser humano tece a sua vida, pois se há quem diga que "nascemos originais e morremos cópia" (Cora Coralina), a pergunta é: O que é cópia se considerarmos as diversidades de personalidades, de tempos e de espaço? O dual permite refletir e transformar recriando velhos modelos ou construindo novos.

Por Juliana Sampaio
Crédito da imagem: Gustave Klimt - Death and Life

sábado, 7 de maio de 2011

Em defesa à vida


A discussão sobre as pesquisas com células tronco embrionárias não pode ser levada para o campo emocional. Um debate ético e racional é possível. Partindo deste pressuposto e da noção de que a questão envolve e valorização e o respeito à vida, é interessante pensar que "a interrupção de uma vida" pode salvar outras. É mais um paradoxo da ciência contemporânea. Como conciliar pontos tão importantes e tão opostos?

É fácil deixar-se convencer por imagens chocantes de abortos e estereótipos maquiavélicos de cientistas desumanos, criados para desprestigiar o trabalho de vários pesquisadores que têm como função prioritária o esforço para garantir a saúde e a qualidade de vida. Afinal, não é esse o juramento de todo médico ou qualquer outro profissional da área da saúde? O de lutar pela vida? Por mais estranho que pareça, estas pesquisas são produto deste esforço. Não é um jogo de vida ou morte. É a tentativa de reverter situações dramáticas, de devolver a felicidade e a esperança a tantas pessoas.

Considerando o aspecto prático do debate - a aprovação da Lei de Biossegurança no Brasil, a qual regulamenta o uso de células tronco embrionárias em pesquisas - é válido ressaltar que os pesquisadores não saem por aí colhendo células germinativas sem critério algum. O material é recolhido de bancos de armazenamento de células embrionárias que estão lá há mais de três anos, representando um risco de ineficácia para eventuais fertilizações; seriam descartadas. Triste não?

Quem acusa estas pesquisas de violar o direito inalienável à vida, de ser antiéticas e constituir crimes, esquece do quão útil já foi e está sendo à humanidade este trabalho. Ignoram a utilização de células tronco no tratamento de doenças adquiridas, como problemas cardiovasculares, genéticas, como diabetes tipo-1 e ALDs (AdrenoLeucoDistrofia), ou no tratamento para recuperação de tecidos e órgãos danificados por doenças ou traumas (doenças neurodegenerativas e nefropatias por exemplo). Desconhecem ( ou fingem esquecer) esta realidade juntamente ao fato de células tronco adultas possuírem capacidade de diferenciação reduzida, se comparadas às embrionárias.

Além de tudo, para os cientistas, não há assassinato, visto que somente a partir da formação do sistema nervoso, na sexta semana, considera-se vida. Como podemos permitir que milhares de pessoas sigam sofrendo pelo simples fato de a ciência não poder pesquisar curas? Até que ponto as pessoas que defendem toda esta ética "a favor de vidas" estão realmente lutando pela vida? Se ainda há dúvidas quanto à seriedade e humanidade destas pesquisas, um pouco de informação seria um bom começo.

Por Juliana Sampaio
Créditos da imagem: http://daniel-eloi.blogspot.com/2010/08/aprovado-testes-de-celulas-tronco-em.html