sábado, 14 de abril de 2012

Tempos Modernos


Viver cercado com tanta tecnologia tornou-se algo comum entre grande parte das pessoas, principalmente nos centros urbanos. Aparatos tecnológicos, produtos da ciência e necessidade, estão tão imbricados no dia-a-dia que, por vezes, esquece-se dos possíveis problemas advindos de tanta facilidade no acesso às informações. O mesmo celular que otimiza os diálogos, pode ser uma arma ao registrar imagens pessoais. A rede social que aproxima pessoas é a mesma usada para prejudicar outrem.
A sensação de viver num "Show de Truman" ainda assusta, porém, toda esta "invasão" pode ser controlada pelo próprio indivíduo ao tomar conhecimento dos benefícios e riscos de tudo que está disponível. O progresso na ciência vem para tornar mais prática a vida dos seres humanos, ou resolver problemas anteriormente insolúveis. Porém, como tudo que é criado pelo homem, todo avanço técnico ou científico pode ser utilizado para ajudar ou destruir. Foi assim com o nascimento da internet e com a descoberta da energia nuclear, para citar alguns exemplos.
Então, o que fazer diante de tamanha invasão? De tal furto da privacidade? Primeiro, é preciso pensar sobre até que ponto a vigilância ocorre e é positiva: uma câmera numa loja com o intuito de inibir roubos é diferente de uma câmera no banheiro ou no vestuário; uma mãe que se preocupe com o conteúdo que se seu filho acessa na internet, é diferente de obrigá-lo a ceder senhas de email e redes sociais. Ou seja, o ponto de partida é refletir sobre os limites do uso dessas tecnologias, tentando entender os benefícios e malefícios do seu uso. Após ter conhecimento do assunto, debater com a família e amigos a necessidade e as consequências da adoção de qualquer medida.
Não dá para negar a facilidade que o mundo moderno criou; nem que os problemas existem. O jeito é aprender a lidar com todo esse fluxo de informações e ter bom senso ao utilizar estas tecnologias. Os abusos devem ser reportados para autoridades competentes e atitudes invasivas devem ser punidas de acordo com a gravidade. Esta é só mais uma das consequências da modernidade e, como tantas outras, exige ética e reflexão para utilização.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

A tênue fronteira da liberdade


Para que a Liberdade de ação e expressão sejam garantidas, é necessário que a humanidade compreenda os limites sociais e individuais. Somente com esse conhecimento prévio pode-se conseguir respeitar os diferentes pontos de vista e desenvolver um diálogo mais harmônico. A proposta de Frei Beto de que "a liberdade do ser humano mede-se pela liberdade do seu próximo" é o ponto de partida para toda a reflexão sobre este assunto, de maneira imparcial.
Hoje, o grande problema está no conceito de liberdade advindo da consolidação do Capitalismo, onde "ser livre" é fazer o que se quer. Isso tudo é resultado de uma ideologia inescrupulosa, criada para denegrir qualquer oposição ao sistema. No entanto, falar de liberdade desconsiderando respeito e responsabilidade é cair no erro crasso da confusão desta com libertinagem.
Em outras palavras, liberdade de expressão e ação são fundamentais para garantir a harmonia numa sociedade com tantas particularidades. Porém, garantir isso é mais do que permitir que todos falem e ajam de acordo com suas crenças; é permitir ao menos o diálogo respeitoso entre as partes e encontrar um ponto em que ambos concordem. É necessário colocar em prática o senso de coletividade e o sentimento de alteridade.
Mais uma vez, o debate envolve basicamente o respeito e a noção de limites. Não importa em que esfera de convivência está se falando, estes são pré-requisitos básicos. Adolescentes que reclamam de pais "autoritários" precisam entender que fazem parte de tempos e contextos diferentes dos seus progenitores; no trabalho, chefes e subalternos devem ter noção dos limites de relacionamento e exploração; enfim, na sociedade, de modo geral, a tentativa de se colocar no lugar do outro é importante. Não é fácil. Requer prática constante e paciência, mas sim, é possível.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Imaginação


     É incrível pensar como a imaginação pode ser uma ferramenta preciosa para a humanidade: um meio de fuga, uma maneira de associar ideias e imagens com a finalidade de produzir algo que preencha uma necessidade interna. Impossível dizer qual das opções seria a mais valiosa. O fato é que antes de qualquer projeto de um edifício ou de um tratamento para o câncer, a imaginação é o primeiro requisito para que se chegue ao resultado final.
     "Sempre que para você chegar terá que atravessa a fronteira do pensar", a música da banda Cidade Negra reflete bem o poder da imaginação como o primeiro grande obstáculo a ser superado antes de mais nada. Sem ultrapassar esta fronteira, muito dificilmente alguém consegue chegar onde quer. A imaginação é o motor, a fonte de energia do ser humano, porém, uma vez distorcida para o medo, pode acabar com a vida de quem a conduz desta forma. O ser humano depende disso. A forma como cada um imagina a si e ao seu futuro define a sua vida.
     Pertence a todos gratuitamente, e em vários momentos foi a única forma de se reportar para uma outra situação e avaliar o que poderia ser feito. Foi o que aconteceu com os poetas românticos, com os cientistas de todas as épocas, com os diretores das produtoras de cinema, com os artistas de um modo geral, e por que não, com o homem durante a sua existência. Em todas as épocas da humanidade, o principal motor de todas as genialidades, curas e atrocidades foi a imaginação.
     Quem poderia sequer sonhar com telefone, internet, transplante de órgãos, teoria da evolução, teoria da superioridade racial, guerras, religiões, línguas, tradição... Tempos atrás isso seria inviável como hoje ainda é o teletransporte de objetos (sim porque o de partículas já foi realizado). É tudo uma questão de tempo que, aliado a essa ferramenta, conduz a sociedade pelos seus caminhos, ora trágicos ora alegres.
     Agora, mais do que nunca, não se pode tratar como loucura as ideias que nos parecem absurdas. Muitas das mentes brilhantes do passado não foram bem interpretados em sua época, e hoje são reconhecidos mundialmente. Hoje, então, com todo o aparato científico disponível, "dar asas a imaginação" é a melhor coisa que pode ser feita. Quem sabe, num futuro próximo, a humanidade não satisfaz o desejo de conhecer o seu futuro? Imaginação para isso não falta. Como diz a letra de John Lennon: "É fácil se você tentar..." (It's easy if you try...)

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O que se revela quando se diz...

Eduardo Calbucci


       A língua, na maioria das vezes, oferece-nos várias possibilidades para dizer
praticamente as mesmas coisas. Escolher a forma mais adequada para cada situação, cotejar
usos, comparar registros, sempre tendo em mente a riqueza dos processos de variação
linguística, é (ou deveria ser) preocupação de todos os falantes, sob o risco de a
intercompreensão e a eficiência de comunicação se perderem.
O “ultrapassado” – ao menos em grande parte do universo acadêmico – discurso do
certo X errado, fundamentado numa dicotomia tão rígida quanto equivocada, desconsidera
que a língua, como sistema que é, merece ser tomada mais como um objeto de estudo do
que como um pretexto para normatizações frágeis e, muitas vezes, preconceituosas.
Por exemplo: quando, no começo dos anos 50, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira
compuseram um dos maiores sucessos da música popular brasileira de todos os tempos, o
baião “Asa branca”, alguns puristas podem ter ficado incomodados com o final daa quarta
estrofe da canção: “Espero a chuva cair de novo / Pra mim voltá pro meu sertão” [grifo
nosso]. Afinal, o uso do pronome oblíquo “mim” na posição de sujeito vai de encontro às
prescrições dos normativistas, que apregoam o emprego do pronome reto (eu) numa
construção como essa.
As explicações sintáticas para essa prescrição vão das mais finas (os pronomes
pessoais em português mantêm resquícios da flexão de caso do latim e, por isso, são
grafados diferentemente de acordo com sua função sintática) às mais insólitas (todos já
ouvimos o descabido “mim não faz nada” ou o politicamente incorreto e descabido “mim é
índio”). O fato é que, por mais que haja quem condene o “mim” como sujeito, esse uso não
se deixou abalar e continua afirmando sua existência nas ruas.
Manuel Bandeira chegou mesmo a dizer que não havia nada mais “gostoso” do que
usar o mim como sujeito de verbo no infinito. Para ele, a expressão “pra mim brincar”
deveria ser usada por todos os brasileiros. Em que pese sua filiação modernista, que o
levava o prestigiar as variantes populares da língua, até mesmo como reação aos
beletrismos de parte da literatura brasileira da virada do século XIX para o século XX, é de
elogiar sua percepção aguçada de fenômenos de língua, que o faz privilegiar a
espontaneidade em detrimento da “correção”.
A tese de Bandeira é plenamente adequada para explicar o uso dos pronomes em
“Asa branca”. Na canção, o emprego de “eu” no lugar de “mim” tornaria o texto incoerente.
O narrador de “Asa branca” é um retirante que foge da seca. Assim, para aumentar o efeito
de “verdade” do texto, optou-se por uma variedade linguística compatível com o universo
social desse narrador.
Linguistas de todas as épocas reconhecem que, quando falamos ou escrevemos,
dizemos mais do que imaginamos. Na verdade, revelamos de onde somos, em que época
vivemos, qual o nosso universo social, como queremos nos relacionar com nossos
interlocutores. Isso se dá porque a língua não é neutra; ela encerra valores, crenças,
ideologias. É por esse motivo que uma simples escolha lexical pode ter mais peso do que
supúnhamos.
Veja-se o caso dos vocativos. Ao referimo-nos aos nossos interlocutores,
interpelando-os diretamente, podemos empregar as mais variadas formas de tratamento:
doutor, senhor, moço, amigo, companheiro, camarada, rapaz, parceiro, mano, gajo, meu
irmão, guri, quase todas com suas respectivas flexões femininas. Os exemplos são
infindáveis. Acontece que cada forma de tratamento revela muito mais do que se imagina:
um “doutor” numa conversa cotidiana pode ser irônico; um “gajo” numa aula de literatura,
uma homenagem a Portugal; um “mano” no Rio de Janeiro, uma brincadeira com o falar de
São Paulo; um “camarada” num encontro partidário, uma filiação ideológica. Nada é neutro.
Daí, o aforismo de Wittgenstein: “os limites da minha linguagem são os limites do
meu mundo”. Quanto maior é a consciência dos falantes sobre essas questões, maior é sua
capacidade de controlar, ainda que parcialmente, o que se revela quando se diz...

domingo, 9 de outubro de 2011

A Argumentação no ENEM

           Recebi este texto e achei interessante não só a temática como a abordagem do assunto. Por isso, resolvi postar aqui. Espero que gostem.


Prof. Zé Victor 02/10/2011

Recentemente, tenho percebido com certo assombro que boa parte de meus alunos (possivelmente a maioria) ainda faz certa confusão acerca do que é um ponto de vista bem fundamentado em argumentos plausíveis, e o que é mera opinião. Antes que a inquisição me leve à fogueira por tal afirmação, gostaria de recorrer à definição do Dicionário Michaelis para este último verbete: o.pi.ni.ão: s. f. 1. Maneira de opinar; modo de ver pessoal; parecer, voto emitido ou manifestado sobre certo assunto. 2. Asserção sem fundamento; presunção. 3. Conceito, reputação. 4. Capricho, teimosia.
Em redações de vestibulares, no caso específico do texto dissertativo, adota-se, comumente, o artifício lingüístico de não se utilizar a primeira pessoa do singular – EU – e nem verbos conjugados nessa pessoa, o que teria o mesmo resultado. Segundo os professores Francisco Platão Savioli (ANGLO VESTIBULARES) e José Luis Fiorin (USP), no livro Para entender o texto – o qual tenho usado como referência para minha metodologia de trabalho com redação – essa estratégia de neutralização da presença do enunciador serve para que os argumentos usados não sejam interpretados como mera opinião do autor do texto. Segundo os referidos autores, “Quando, eventualmente, se utilizam verbos de dizer, são verbos que indicam certeza e cujo sujeito se dilui sob a forma de um elemento de significação ampla e impessoal, indicando que o enunciado é fruto de um saber coletivo, que se denomina ciência“ (PLATÃO & FIORIN, 1999).
Entretanto, a mera observância desse artifício lingüístico de nada valerá ao estudante, caso o mesmo fundamente seu texto em pontos de vista insustentáveis ou facilmente contestáveis, ou seja, na mera opinião pessoal. Creio ser válido citar novamente o professor Francisco Platão Savioli, em entrevista concedida à Veja.com, acerca da redação no Enem:
“Dissertação é texto do universo comentado. Firmar uma posição com base em bons argumentos, ser capaz de negociar e não de se impor arbitrariamente. O Enem faz explicitamente uma exigência que os outros vestibulares não fazem explicitamente, mas cobram, que é a necessidade de propor uma intervenção transformadora para resolver aquele problema discutido sem ferir os direitos humanos. Existe aí o risco de o candidato pensar o seguinte: ‘então, eu não posso dar minha opinião’. Não, não pode dar uma opinião não sustentável. Então, argumento fraco e afirmações gratuitas são mortais na redação”. (Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=U-VaM_uV5ys)
Observe a seguinte definição do Dicionário Michaelis: ar.gu.men.to: s. m. 1. Prova que serve para afirmar ou negar um fato. 2. Meio ao qual se recorre para convencer alguém. 3. Tema, enredo de uma peça teatral ou de um filme. 4. Lit. Sumário de uma obra literária. 5. Fam. Altercação, contenda, discussão.
Ou seja, tomando a acepção da palavra argumento como “Prova que serve para afirmar ou negar um fato”, chamo a atenção para a necessidade de que baseemos nossos posicionamentos em provas cabais, factuais, coerentes com aquilo a que chamamos “ciência”. Retomando o que dizem Platão & Fiorin, o recurso lingüístico de não-uso da primeira pessoa do singular permitiria a ocultação do sujeito-autor do texto, que “se dilui sob a forma de um elemento de significação ampla e impessoal, indicando que o enunciado é fruto de um saber coletivo, que se denomina ciência“. E a ciência, como se sabe, baseia-se em fatos verificáveis, argumentos factuais e plausíveis, o que lhe tem conferido grande credibilidade ao longo dos séculos. Tal objetividade, pretendida em um texto dissertativo deve, portanto, excluir argumentos do tipo: “segundo a Bíblia”, “de acordo com os preceitos cristãos”, “foi assim que fomos educados por nossos pais” ou mesmo “essa é a opinião da maioria das pessoas”. Tais “argumentos”, se é que assim podem ser chamados, perderiam sua validade por dois aspectos. Primeiramente, por que partem de questões de foro ÍNTIMO e SUBJETIVO, o que por si só entraria em conflito com o discurso dissertativo de caráter científico, justamente por lhes faltar a tão pretendida OBJETIVIDADE, e por não serem aceitos ou aplicáveis a todas as pessoas indistintamente. Em segundo lugar, já prevendo o “argumento” de que a opinião da maioria enquanto “saber coletivo” não poderia ser considerada como sendo de foro INTIMO e SUBJETIVO, é necessário fazer aqui a devida distinção entre o senso comum e o discurso dissertativo de caráter científico.
Segundo a definição do Dicionário Michaelis: sen.so: s. m. 1. Faculdade de julgar, de raciocinar; entendimento. 2. Siso, juízo, tino. 3. P. us. Sentido, direção. — S. comum: modo de pensar da maioria das pessoas.
Creio ser desnecessárioarantir... No dicionário Aurélio, encontramos a seguinte definição para a expressão Senso comum: Conjunto d chamar a atenção para a diferenciação feita pelo dicionário entre senso e senso comum, mas só para ge opiniões tão geralmente aceitas em época determinada que as opiniões contrárias aparecem como aberrações individuais.
            Agora, observe a seguinte citação, extraída do site http://educacao.uol.com.br/historia/nazismo-violencia-e-propaganda-foram-as-armas-de-adolf-hitler.jhtm:Ideologicamente, Hitler se apropriou de idéias nacionalistas já em voga na Alemanha, radicalizando-as. Defendia a necessidade de unidade nacional, garantida por um Estado governado por um partido único, o Nazista, do qual ele era o líder supremo. Identificado com a própria nação, Hitler passou a ser cultuado como um super-homem pela imensa maioria do povo alemão. (...) O nazismo proclamava também a "superioridade biológica da raça ariana" (a que pertenceria o povo alemão) e, conseqüentemente, a necessidade de dominar as "raças inferiores". Entre estes, colocavam-se os judeus, os eslavos, os ciganos e os negros”. 
            Acreditar que a opinião da maioria deve sempre prevalecer como verdade absoluta é referendar posturas, como a da citação exposta acima, como sendo corretas. Mas, em todo caso, caberia perguntar: e se a maioria estiver errada?
            O senso crítico nos faria perguntar: Quais são os argumentos da maioria? São válidos tais argumentos? Se sustentariam diante de uma argüição séria e objetiva? O que tem a dizer a maioria em defesa de seus argumentos? Se a resposta for somente: “somos a maioria e a vontade da maioria prevalece”, certamente estaríamos diante de uma verdade, infelizmente (principalmente para a minoria), mas certamente estaríamos também diante de uma mera opinião. Diante da pergunta sobre “por que a vontade da maioria deve prevalecer?”, não me espantaria se ouvisse “argumentos” como “por que sim!”, ou “por que mesmo”, ou “por que isso sempre foi assim!”, ou até mesmo “por que essa é a vontade de Deus”. Infelizmente, tais “argumentos”, não poderiam ser assim considerados, pois, como foi dito acima, falta-lhes OBJETIVIDADE.
Como já havia sido mencionado, o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), pede explicitamente que o candidato elabore uma proposta de “intervenção transformadora pra resolver aquele problema discutido sem ferir os direitos humanos”. Certa vez, tive a grande surpresa de ouvir em meio às opiniões e argumentos dos alunos, alguém dizer que, por conta de tal exigência de respeito aos direitos humanos, era necessário mentir para passar no vestibular. Fiquei novamente surpreso, negativamente (diga-se de passagem). Mas, certamente, na incapacidade de reverter tal situação, está longe de mim ousar pedir que um aluno meu seja sincero. Afinal, mentir é algo que fere profundamente os meus princípios, os valores com os quais fui criado, as minhas mais profundas convicções religiosas e, portanto, isso não passaria uma mera opinião pessoal minha, para a qual eu não teria sequer um argumento plausível ou sustentável. Além disso, temos de dar um desconto e perceber que “os tempos são outros”. Afinal, os valores são culturais e subjetivos, e imagino que quando nas tábuas da Lei foi escrito o mandamento “ama o teu próximo como a ti mesmo”, ou quando Jesus falou, em seu tempo, que toda a Lei e os profetas estariam sintetizados nesses dois mandamentos: “amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”, certamente, não se vivia em uma “Democracia Representativa”. E há quem pense que, justamente por vivermos em uma “Democracia Representativa”, a vontade da maioria deve sempre prevalecer, e que isso é “democrático”. Mas só para esclarecer certas confusões conceituais, segue uma breve definição do que seria democracia:
“Democracia ("demo+kratos") é um regime de governo em que o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos (povo), direta ou indiretamente, por meio de representantes eleitos — forma mais usual. Uma democracia pode existir num sistema presidencialista ou parlamentarista, republicano ou monárquico.
As Democracias podem ser divididas em diferentes tipos, baseado em um número de distinções. A distinção mais importante acontece entre democracia direta (algumas vezes chamada "democracia pura"), onde o povo expressa a sua vontade por voto direto em cada assunto particular, e a democracia representativa (algumas vezes chamada "democracia indireta"), onde o povo expressa sua vontade através da eleição de representantes que tomam decisões em nome daqueles que os elegeram.
Outros itens importantes na democracia incluem exatamente quem é "o Povo", isto é, quem terá direito ao voto; como proteger os direitos de minorias contra a "tirania da maioria" e qual sistema deve ser usado para a eleição de representantes ou outros executivos”. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Democracia
            Caso ainda reste alguma dúvida, após o grifo feito na citação, de que uma DEMOCRACIA moderna, para ser concebida como tal, deve proteger as minorias, e não esmagá-las sob o peso da opinião da maioria, talvez seja o caso de um plebiscito, para ver se a volta ao Império no Brasil não seria uma saída, pois começo a pensar se o mesmo não constituiria um sistema político um tanto mais humanitário.
“Deus salve a rainha!”

quarta-feira, 25 de maio de 2011

 DESABAFO...

Por que eu tenho que ir às ruas e expor a minha integridade física para conseguir o que é meu direito? Por que eu preciso promover greves e passeatas, interditar ruas e atrapalhar o trabalho de terceiros que nada tem a ver com a minha vida? Tudo isso para que? Para chamar a atenção de um governo que não liga para os meus interesses, para o meu bem-estar e só o faz quando é pressionado publicamente?

Estamos cansados de ouvir que nós, os jovens de hoje, somos uma geração sem bandeiras. Que bandeiras vocês querem? Que atitudes vocês esperam de nós? Se há alguns anos atrás isso deu certo com vocês, os tempos são outros hoje, as coisas não funcionam da mesma forma e talvez se algum de vocês queira saber: não, eu não quero apanhar da polícia ou ser perseguida por alguém pelos meus ideais. E mais, por que nós temos que nos comportar igual a vocês para sermos algo? Sabe o que é engraçado? É que esse mesmo povo que fez tudo isso em décadas passadas, antes mesmo de terminar toda a agitação, se casou, começou a a trabalhar todo engravatado, ou então ficou em casa cuidando das crianças e fazendo tudo o que mais criticavam. Interessante não?

O que me parece irônico no meio de tudo isso é que enquanto uns enchem a boca para dizer que nossa geração "não está com nada", "está perdida", "não tem bandeiras, não luta por nada" eu vejo o contrário. Mesmo que lentamente (quase parando) a sociedade está mudando, e quem são os responsáveis por isso? Os idosos? Não! Definitivamente. Somos nós que estamos mudando nossas atitudes, somos nós que estamos nos conscientizando; ainda que não seja algo comum a todos. As transformações não ocorrem de uma hora para outra, e quando acontecem, resulta no que muitos viram anos atrás.

Não sei se essas pessoas que dizem tudo isso estão ouvindo o que estão dizendo. Eu não concordo com essa visão limitada de luta pelos interesses comuns. Sempre existiram outros meios de se fazer justiça, e hoje mais do que nunca, é viável conseguir mudanças sem precisar atrapalhar a vida das pessoas que estão voltando para as suas casas. Talvez você pergunte: qual é essa maneira? Eu terei o maior prazer em responder: Imprensa. Este é o melhor veículo de informação e denúncia que todo cidadão possui. Nenhum governante gosta de ter sua imagem prejudicada e é exatamente aí que nós deveríamos bater. A via diplomática deve ser usada como primeiro recurso, porém, como no Brasil as coisas só funcionam "na porrada", é difícil conseguir algum avanço só com a educação. E claro, para os que estão pensando que só a imprensa em si não basta, eu rebato: comoção.

Comoção regional, nacional ou internacional se for necessário. Governantes odeiam outras pessoas opinando sobre aquilo que diz respeito ao seu governo. É claro que nada disso vai funcionar se não houver conhecimento de causa e de direitos, se não houver bons negociantes, pois é assim que eles nos enganam e é cm a mesma arma que vamos contorná-los.

Enquanto aqueles limitam-se em dizer que nós não fazemos nada, nós, por outro lado seguimos cantando com os mesmos ídolos deles "vamos pedir piedade, senhor, piedade pra essa gente careta e covarde; vamos pedir piedade, senhor, piedade, lhes dê grandeza e um pouco de coragem".

Por Juliana Sampaio
Citação da letra da música Blues da Piedade - Cazuza


PS.: UM DIA, EU REALMENTE ACREDITEI NISSO... AGORA, NÃO MAIS.

sábado, 21 de maio de 2011

Vida e Morte

Desde que o homem teve consciência de si, a preocupação com a morte aparece como um dos motivos que o leva a refletir sobre sua vida, desde questões filosóficas até questões puramente práticas do cotidiano. A totalidade existe nos seus contrastes, as coisas se organizam em ciclos e tal como o "ciclo da vida" envolve a morte, o dia-a-dia é composto por fins e recomeços que se alternam num processo de criação e cópia.

A forma como vemos, se como inovação ou como reprodução, depende em parte da cultura que vivemos, já que é evidente a diferença com que se trata "o fim" no Ocidente e no Oriente. Enquanto o mundo ocidental propõe um abismo entre os contrastes, os orientais aproximam-se dos opostos e ensinam a conviver realmente com a idéia de ciclo: início, meio, fim e recomeço... E dessa diferença resultam os mais diversos tipos de produção do espaço, tempo e cultura.

Não se pode negar que a rotina transforma os dias em repetições que podem ser prazerosas ou monótonas, nos levando a crer que as coisas são iguais; e, até certo ponto, isso é verdade. Porém, se considerarmos o exemplo de Heráclito quando este dizia que um homem nunca toma banho duas vezes no mesmo rio, a idéia parece mudar de foco. No fim, tudo depende de como cada indivíduo enxerga a si próprio e às pessoas.

São enormes os exemplos que temos de como a humanidade encarou a dualidade vida-morte em todas os tempos e como conviver com isso, seja "vivendo intensamente cada minuto" ou "se preparando para o que está por vir". O que realmente impressiona é a maneira como cada ser humano tece a sua vida, pois se há quem diga que "nascemos originais e morremos cópia" (Cora Coralina), a pergunta é: O que é cópia se considerarmos as diversidades de personalidades, de tempos e de espaço? O dual permite refletir e transformar recriando velhos modelos ou construindo novos.

Por Juliana Sampaio
Crédito da imagem: Gustave Klimt - Death and Life